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Como Conheci Temptations Numa Coletânea Nacional

Certas músicas aparecem de maneira bastante inesperada em nossas vidas e "Papa Was a Rolling Stone" do grupo americano The Temptations foi uma delas. Descobrir canções através de discos antigos é uma boa forma de revisitar o passado e tais músicas, de maneira talvez até inconsciente, são incorporadas à nossa seleção pessoal de qualidade. O disco se chamava Jovem também tem saudade, volume II, uma agradável e fluida seleção internacional que começava o lado A com "Baby, I love you", do canadense Andy Kim, música que sempre valia a pena ouvir mais de uma vez. Na sequência, entre a terceira faixa - "To Sir With Love", tema do filme Ao Mestre, com Carinho - e a quinta faixa, a singela e marcante "It's Too Late" da Carole King, lá estava ela: "Papa Was a Rolling Stone", dos Temptations. Uma música sofisticada aos ouvidos, uma longa e apurada introdução instrumental que se mesclava a uma sonoridade sombria, digna da letra que narrava o momento em que uma mãe confidenciava aos filhos sobre a má reputação do falecido pai.

A faixa "Papa Was a Rolling Stone" ocupa mais da metade do lado A na edição original

A letra da música era intrigante e possibilitava um mergulho tão profundo nos pensamentos que ouvi-la era quase como assistir a um filme. Anos mais tarde, cada uma daquelas vozes ganhou rosto quando consegui assistir aos vídeos do grupo. Uma performance abreviada de "Papa Was a Rolling Stone" para o programa americano Soul Train mostrou os integrantes apresentando uma coreografia precisamente ensaiada. Ao longo dos anos, sempre estava atenta ao som dos Temptations, seja em filmes, como em Meu Primeiro Amor, no qual "My Girl" era a faixa principal da trilha sonora, ou em um curta de animação criado pela televisão americana em 1988, "Meet the Raisins", no qual a música "Ain't Too Proud to Beg" tem destaque, dentre outras de compositores da Motown.

Jovem também tem saudade, volume II era um disco de coletânea e "Papa Was a Rolling Stone" talvez não tivesse tanto prestígio para se desenrolar pelos onze minutos, como aparecia originalmente nos discos da Motown. Aos cinco minutos e alguns segundos, a música era interrompida com um impiedoso fade out, o que fazia dela apenas uma amostra para os ouvintes mais assíduos ficarem com a curiosidade ativada em nível máximo. A chance de ouvir "Papa Was a Rolling Stone" completa viria apenas anos mais tarde; pena que ouvi-la pela internet não refletia o mesmo fascínio do LP, que tinha aquele selo verde e azul em forma de espiral. Quando ouvia aquele disco, minha percepção sonora se misturava à visual, o que causava uma sensação de encantamento e quase hipnose percebida só por quem tinha a chance de ter aquela experiência.

Ainda cultivo o hábito de ouvir compilações com temas diversos e de vez em quando uma música se destaca em meio às outras. Vem a partir daí a prazerosa tarefa de pesquisar e tentar achar álbuns interessantes daquele artista. Aquele disco abriu as portas para que eu pudesse conhecer outros artistas do Rhythm and Blues e Soul e até hoje percebo que ainda há muito a ser descoberto com relação a este assunto. Talvez seja agora o momento oportuno de dar maior atenção ao lado B deste disco para relembrar aquela época e quem sabe, aprofundar em outros estilos musicais.


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