Belo Horizonte vive, na atualidade, um dos melhores momentos em termos culturais. A cada dia surgem mais espaços que são verdadeiras vitrines para a cena local em formatos inéditos. Exemplo disso aconteceu no último sábado, 8 de abril, em que, mesmo em feriado prolongado de semana santa, um excelente público esgotou os ingressos para conferir as apresentações de Paiol de Tonha e o bloco Chama o Síndico que contou com participação de BNegão e Russo Passapusso.
O evento intitulado "Conexão Cata", foi produzido pelo Quintal da Jabu e utilizou as dependências do Catavento Cultural para uma grande celebração da música. Localizado no bairro Ipiranga (BH), o Catavento oferece uma estrutura diferenciada por se tratar de uma inusitada e convidativa tenda de circo. Outro ponto a favor do estabelecimento é ter um bom espaço que comporta centenas de pessoas que podem circular livremente, sem grandes filas ou atropelos. Nos intervalos, coube ao DJ Narciso manter a pista "quente" e o clima festivo.
A atração de abertura foi a banda Paiol de Tonha. Formado por Marcelo Caçapa (voz e guitarra), Daniel Filho (guitarra), Christopher Martinez (baixo), Ébano Brandão (bateria), Lisa Lima (percussão) e Rafael Leite (percussão), o grupo tem a proposta artística de revisitar os ritmos do norte do país, estabelecendo uma ponte com sonoridades latinas, misturando carimbó, semba, cumbia e ritmos adjacentes. No longo set, canções populares de artistas como Gilberto Gil ("Andar com Fé"), Caetano Veloso ("Reconvexo"), Felipe Cordeiro ("Legal e Ilegal) e Manu Chao ("Clandestino") foram executadas com energia e personalidade em arranjos autorais. Houve espaço também para canções próprias como "Tereza" e "Que Que Tem (Tá que Tá)" que foram muito bem recebidas pelo público que cantou, dançou e pediu bis.
Na sequência, foi a vez do bloco carnavalesco Chama o Síndico. Tal qual uma big band, o grupo ganhou notoriedade no carnaval da capital ao tocar, de forma pessoal e percussiva, o repertório de Jorge Ben Jor e Tim Maia. Comandado pelas vozes de Zé Mauro e Mateus Rocha, o Chama o Síndico relembrou os sucessos dos mestres da MPB, mas também prestigiou pérolas dos convidados da noite. Chamou atenção, durante todo o show, o afinadíssimo e groovado trio de metais que protagonizou solos extasiantes.
O primeiro a subir ao palco foi o carioca BNegão. O vocalista do Planet Hemp, de início, entrou no jogo e fez coro e voz para faixas como "Descobridor dos Setes Mares", "Que Beleza", "Terapêutica do Grito", "Você" e "Primavera" , do repertório de Tim Maia e "Umabarauma" e "Zumbi", de Jorge Ben Jor. Do repertório do BNegão vieram faixas de sua fase junto ao Seletores de Frequência como "A Verdadeira Dança do Patinho" e "(Funk) Até o Caroço", ambas do clássico disco Enxugando Gelo, e "Essa é Pra Tocar no Baile" (do álbum Sintoniza Lá). A percussionista e cantora Naroca, conhecida por também integrar o bloco feminista Sagrada Profana, teve sua vez ao microfone levantando voz em nome dos direitos das mulheres e teve imediato apoio de todos os presentes.
Russo Passapusso foi convidado a se juntar à Bnegão no palco e, feito um rolo compressor, cantou de forma avassaladora as canções emblemáticas do BaianaSystem. Executadas em formato de medleys, a sequência "Lucro / Sulamericano / Água", colocaram, literalmente, a casa abaixo. Outra sequência matadora foi a junção de "Coroné Antônio Bento" (Tim Maia), "Rios, Pontes e Overdrives" (Nação Zumbi) e "Dia da caça" (BaianaSystem) que foram cantadas em uníssono pelos presentes. No final, os hinos de Jorge Ben "Filho Maravilha" e "Taj Mahal" (Ben de 1979) encerram a apresentação em alta, colocando ponto final numa noite em a música latina foi celebrada em suas mais variadas vertentes.
Ao lado do bloco Chama o Síndico, Bnegão e Russo transmitiram diversão e, por vezes, mencionaram que este seria um primeiro encontro de muitos. O resultado dessa noite tecnicamente impecável, que contou também com performance circense nos intervalos, pode ser traduzida pela imagem do público suado de tanto dançar, esbanjando sorrisos na saída.
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