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Foto do escritorBruno Lisboa

Entre a nostalgia e a novidade, festival Punk no Park estreia em BH

Fotos: Bruno Lisboa


Inspirado em iniciativas norte-americanas como o Punk in the Park, o festival homônimo belo-horizontino Punk no Park ocupou, no último sábado, as dependências do Parque Municipal Professor Amílcar Vianna Martins, localizado no bairro Cruzeiro. Localizado na região centro-sul, o espaço tem vista privilegiada para os bairros Anchieta, Carmo, Sion, São Pedro e Funcionários.



Contendo um line up pautado pela diversidade, o festival realizou um verdadeiro encontro de gerações. Prova disso é que bandas veteranas da cena punk/hardcore nacional como Zander, Mukeka Di Rato, Garage Fuzz, Alexandre Capilé (Sugar Kane) dividiram espaço com novidades da música pesada como o grupo paulistano Lōtico. Não obstante, a produção do evento mostra estar atenta ao que acontece na prolífica cena atual mineira. Para a primeira edição bandas como a Expurgo, Payback, Os Contras e a Lost Hope foram os artistas selecionados e realizaram shows igualmente históricos.


Ao longo de quase 10 horas de programação, o público presente (cerca de 1300 pessoas) puderam usufruir do espaço das mais variadas formas. O festival ofereceu ao público uma gama de experiências paralelas. Além de uma pista de skate (liberada durante todo o evento), o evento contou com atividades de yoga, oficina de skate para crianças e de silk, exposições artísticas, bate papo sobre sustentabilidade, live painting, espaço kids e uma feira alternativa com produtores/produtos diversos e merchandising dos produtores do evento e das bandas do line up.



My Lost Hope


Após as apresentações de Os Contras e Capilé (em formato acústico) foi a fez da banda Lost Hope retornar os palcos, após longo hiato. A banda tem uma longa estrada na cena alternativa mineira e realizou apresentações históricas durante o primeiro ciclo de atividades em casas de shows como a Matriz e a Obra.



Como forma de celebração dos 20 anos da banda, o enérgico set foi pautado pelo único registro oficial do grupo, o EP Look, Listen and Destroy (2005), mas também trouxe novidades como a faixa "Radio Waves", gravação que estava arquivada e foi lançada como single esse ano. Espera-se que a apresentação e boa resposta do público sirvam de combustível para que a banda siga na ativa.


Private Playground


A Payback é uma banda de trash metal mineira que está na ativa desde 2011. Respeitando a longa tradição do metal brasileiro, a banda segue a escola de bandas locais a The Mist e o Ratos de Porão, apostando num crossover que une influências do hardcore e do metal.



O quarteto formado por Daniel Tulher (baixo e vocais), Igor Gustavo (guitarra), Pedro Duarte (guitarra) e Thiago Pena (bateria) a apresentação avassaladora foi baseada nos dois discos de estúdio do grupo e demonstrou como que, de maneira gradativa, o grupo segue evoluindo dentro e fora dos palcos.


Cerimônia


Com disco de estreia lançado no segundo semestre do ano passado, a Lōtico é um das bandas mais importantes da cena metal atual. O elogiado álbum do quinteto, Oruan (2023), ganhou elogios da mídia especializada de diversos veículos de imprensa.



Com sonoridade orientada por estéticas ligadas ao post-metal e o metal alternativo, a apresentação hipnótica da banda conquistou o público, graças a destreza técnica exposta, materializada em canções longas (na casa dos seis minutos) de com letras de cunho existencialista que alternando desde momentos silenciosos ao esporro sonoro. O resultado desta estranha (e bem vinda) equação impressionou ouvintes desavisados que saíram do festival com boa impressão da banda.


Pólvora


Vivendo novo momento na carreira, a Zander voltou a Belo Horizonte cerca de cinco anos após a última apresentação realizada no festival Garage Sounds E longa espera valeu a pena! Composta por Gabriel Zander (guitarra e vocais), Fausto Oi (baixo), Fox Amato (guitarra) e Nico (bateria), a nova formação segue mantendo em voga a intensidade e a entrega de outrora que resultam numa apresentação intensa e emocionante.



O set, composto por 12 faixas, trouxe a tona canções de todas as fases do grupo, com atenção especial para o disco Brasa (2010) de onde hinos como "Auto Falantes","Terreiro", "Humaitá" e "Até a Próxima Parada".


Houve espaço para singles de outros trabalhos como "Bastian contra o Nada", "Depois da enchente" e duas covers do Noção de Nada ("Diploma" e "Ímpar"), banda que Zander capitaneou durante os anos 90 / início dos anos 2000. A canção "Dialeto" veio na reta final e causou uns dos momentos mais belos do festival. Cantada pela baterista Nico, a faixa é uma das faixas prediletas dos fãs e ganhou belo coro em uníssono.



Live Obscenity


O Expurgo segue a escola do grindcore e está na ativa desde o início dos anos 2000. O grupo tem feito apresentações regulares (dentro e fora do Brasil) junto a bandas de peso. Um dos grandes trunfos da banda é conseguir reproduzir a brutalidade impressa nos discos de estúdio de forma fidedigna ao vivo. Isso faz com que a atmosfera catártica se espelhe dentro e fora do palcos.



Em total sintonia, público e banda criaram um espetáculo a parte com ineterruptas rodas de pogo e invasões do palco por parte do público. Egon, vocalista do grupo, buscou se comunicar com público durante a apresentação ao se posicionar o malfadado Projeto de Lei 1904 que almeja criminalizar o aborto.


Embedded Needs


Após longa ausência da capital mineira, o Garage Fuzz retornou a BH e realizou um dos shows mais esperados do festival. A bem vinda entrada do vocalista Victor Franciscon (ex-Bullet Bane), em substituição a Farofa, fez com que a banda mantivesse vivo o legado construído ao longo de três décadas de bons serviços prestados.



Direcionando um olhar para o passado, mas atento ao presente, o set foi uma mescla de canções clássicas e novas, presentes no EP mais recente Let The Chips Fall (2021). Nesse sentido, hinos como "A Mutt Running Nowhere", "Kids on Sugar", "The Morning Walk" e "Cortex" dividiram espaço com o repertório mais recente, representado por faixas como "Elephant" e foram igualmente bem recebidas pelo devoto público.


Por mais que o grupo tenha enfrentado problemas de natureza técnica quanto a equalização do som e as caixas de retorno, a apresentação foi marcada por uma performance elétrica da banda que se mantém, até hoje, como uma das mais tradicionais e importantes da cena hardcore brasileira.



Heróis da Nação Falida


Coube o papel de encerrar os trabalhos do Punk no Park para os lendários capixabas do Mukeka di Rato. Tal como as bandas Garage Fuzz e Zander, o Mukeka não tocava em BH há bastante tempo e as expectativas eram altas para saber como é o show da banda na atualidade.


A apresentação no festival foi a oportunidade para a banda não só tocasse o repertório presente em seu disco mais recente, Boiada Suicida (2022), como também promovesse a estreia de Fêpas (vocalista e guitarrista) em terras mineiras.



O repertório presente em Boiada foi carro chefe da apresentação e de lá vieram faixas como "Luzia", "Coração Sapato", "Humano Fracasso" e a faixa título. Sem tempo para respirar, o grupo enfileirou porradas como "Praia da Bosta", "Maconha" e "Cobra Criada" que agradaram em cheio os fãs da velha guarda. Infelizmente, a banda teve que encerrar o set de forma prematura devido a circunstâncias do horário, mas o recado foi dado. Espera-se que o retorno da banda por essas bandas não tarde!


Avaliação Final


De forma geral, o Punk no Park cumpriu a sua função ao reunir diferentes gerações da cena punk, em dos espaços mais bonitos da cidade.


Positivamente, se destacam a curadoria cuidosa que reuniu desde bandas locais a veteranas que há muito tempo não tocavam em BH. A atenção para com o público infantil e o oferecimento de experiências diversas ligadas à cultura do skate e as tradições hare krishna também deram certo.


Os porém estão relacionadas ao número reduzido de banheiros químicos e caixas volantes que fizeram com que grandes filas se formassem. Somado a estes fatores a má localização do bar fez com que o público se aglomerasse e perdesse um tempo considerável para retirar seus pedidos.


Entre erros e acertos, fica o desejo para que na próxima edição (a ser realizada em maio de 2025) o festival siga em frente nessa árdua e importante missão que é manter viva a cultura punk e independente na cena belo-horizontina.

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2 comentarios


cobertura fiel e cirúrgica!

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a cena do HC em BH precisa de incentivo! foi lindooo, as melhorias com certeza virão, ansiosa pela próxima edição. <3

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