Fãs e amigos se despedem de Lô Borges na esquina do Clube

Texto e fotos: Alexandre Biciati

Além de um compositor extremamente produtivo com o pé na estrada, Lô Borges era um colecionador de amizades e parcerias. Foi de forma natural e espontânea que o encontro das ruas Divinópolis e Paraisópolis (Divino com Paraíso!) recebeu o talento de artistas e amigos para uma cantoria que reuniu centenas de fãs emocionados em noite de lua cheia.

Logo após o anúncio da morte de Lô Borges, na segunda-feira, começaram a circular imagens da esquina mais famosa de Minas Gerais, que se transformou no centro das homenagens ao músico que ajudou a moldar com letra e melodia a identidade cultural do estado. Ao lado de Milton Nascimento, Márcio Borges e Fernando Brant, Lô Borges cunhou o que ficou conhecido como um movimento original e autenticamente mineiro, cujas composições atravessam gerações com status de trilhas sonoras atemporais.

A ocupação cultural da esquina – que detém uma das placas que chancelam pontos turísticos obrigatórios do movimento Clube da Esquina – já acontece há bastante tempo. Ali perto funciona o Bar e Museu Clube da Esquina e, mais recentemente, foi inaugurado o coworking Casa da Esquina, projeto dos arquitetos Bruna de Sá e Chico Casarões, responsáveis pela revitalização física do espaço simbólico.

O local virou ponto de encontro de artistas para jams improvisadas e cheias de personalidade, iniciativa brilhante de Gabriel Guedes (Xexéu), filho de Beto Guedes. Por ali, já passaram nos finais de tardes de domingo, diversos músicos dedicados a celebrar as canções do Clube para alguns poucos privilegiados que tomaram conhecimento do encontro. O próprio Lô Borges se apresentou no banco que, naquela tarde, foi tomado por girassóis e tantas outras cores.

Os músicos que vieram para o evento se instalaram debaixo de uma tenda simples e funcional, que foi rodeada por olhares marejados. Ao longo da noite, que se estendeu além do limite de horário convencional, circularam milhares de fãs. O assunto entre os presentes era, naturalmente, as histórias pessoais sobre a obra e a vida de Lô Borges. Não faltaram flores, velas, camisetas, cartazes e, claro, muita canção.

Enquanto o evento crescia em público, também aumentava a intensidade da despedida. Uma projeção na parede surpreendia com fotos históricas e citações. A celebração recordou clássicos de Lô e Milton como “O Trem Azul”, “Paisagem da Janela”, “Clube da Esquina Nº 2”, “Tudo O Que Você Podia Ser”, “Vento de Maio”, “Nada Será Como Antes”, “Para Lennon e McCartney”, “Ponta de Areia” e foi impossível segurar as lágrimas com “Um Girassol da Cor do seu Cabelo”. A cada música, os presentes aplaudiam e gritavam o nome de Lô Borges.

Participaram da cantoria os artistas: Toninho Horta, Gabriel Guedes, Júlia Guedes, Marílton Borges, Fred Borges, Wilson Lopes, Beto Lopes, Leopoldina Azevedo, Marina Machado, Mariana Nunes, Thiago Correa, Pedro Morais, Felipe D’angelo, Pablo Castro, Makely Ka, Jennifer Souza, Raquuel Couthinhoo, Bianca Luar, Thiago Caldas, Cyrano Almeida, Rai Medrado, Lucas de Mello, Sergio Santos, Bárbara Barcellos, Ana Caixeiro, Flávio Boca, Dan Oliveira, Naíssa Raj, Mário Wamser, Marcelo Dante, Carol Figueiredo, Linnikar, Pedro Alexandrino, representantes do bloco carnavalesco Bloco da Esquina, entre outros.

A despedida a Lô Borges em forma de cantoria ganhou simbolismo no próprio movimento. Uma reunião de amigos em torno da música, onde tudo começou, reafirmou seu poder de conectar pessoas e corações. Fica a certeza de que a obra e a história de Lô Borges permanecerão vivas em casa esquina, entre amigos, sob a luz de um girassol.

Lô Borges partiu, precocemente, aos 73 anos e deixou um legado de 18 discos oficiais, além de material inédito que pode render ainda, pelo menos, mais quatro discos.

Foto: Luísa Gontijo