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Legião Urbana é celebrada em show de Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos

O legado da Legião Urbana pode ser analisado sob diversas perspectivas. A mais óbvia diz respeito à discografia da banda que conta com oito discos lançados entre 1985 e 1997, onde figuram obras icônicas, sempre citadas em listas de melhores discos nacionais. Outro ponto de análise é a constante renovação da base de fãs década após década, o que constata a atemporalidade das canções e da poesia do líder e compositor Renato Russo.


Até mesmo a herança do nome da banda foi disputa judicial recente, de onde saíram vencedores Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Segundo o ministro do STF que chancelou a causa, a marca nominativa "Legião Urbana" é patrimônio imaterial e pode ser usada para assinar os shows dos seus fundadores.


Fotos: Alexandre Biciati

A reunião de Dado (guitarra/voz) e Bonfá (bateria/voz) para relembrar no palco os clássicos discos da banda, que venderam ao todo mais de 25 milhões de cópias, é, então, a mais legítima e desejada homenagem ao referido legado. Ainda que não carreguem o nome da banda nas divulgações do show, não resta dúvidas que estamos diante do que há de mais próximo de um show da Legião Urbana em tempos atuais.



Contando com o apoio de André Frateschi, que assumiu a desafiadora missão de substituir a voz de Renato Russo, o projeto, iniciado em 2015, percorreu o país celebrando inicialmente os 30 anos de lançamento do primeiro disco. De lá pra cá, o sucesso da empreitada fez com que a banda seguisse na estrada revisitando, de maneira cronológica, a discografia do grupo.


Após a bem sucedida primeira turnê, em que priorizaram o repertório presente em Dois (1986) e Que País é Este (1987), agora o grupo decidiu apostar suas atenções numa das fases mais comerciais da Legião: os discos Quatro Estações (1989) e V (1991). Ambos os álbuns mostraram, na época do lançamento, uma evolução sonora. O pós-punk de outrora daria lugar a arranjos mais elaborados e as letras, mais profundas, abordavam agora o universo das relações humanas em suas mais variadas perspectivas.



Intitulada as V Estações, o show realizado em Belo Horizonte entrou, sem dúvidas, para o rol de eventos memoráveis para um enorme contingente de fãs que lotou as dependências do Arena Hall.


Ao som de "This is Love", da cantora britânica PJ Harvey, a banda adentrou o palco provocando êxtase geral e entregando uma performance eletrizante e cativante. Acompanhados pelos músicos Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (diretor musical e baixista) e Pedro Augusto (teclados), ao vivo o grupo soa ainda mais interessante por, não só reproduzir os arranjos originais, mas também por abrir espaço para inserção de novas camadas e experimentações.



Ao longo de duas horas de apresentação, o setlist foi composto por 22 canções que alternavam faixas de Quatro Estações e V que foram intercaladas por hits de álbuns como Legião Urbana, Dois e Que País é Este. A tríade inicial composta por "Há Tempos", "Meninos e Meninas" e "Sereníssima" já deixaram claras as características que seguiriam por toda a noite: uma banda entrosada e em perfeita sintonia com público devoto, que cantou em uníssono por toda a noite.



A apresentação foi um autêntico encontro de gerações. Era possível ver tanto pessoas que acompanharam a banda em sua fase clássica, como também aqueles que tomaram conhecimento da Legião após a morte de Russo, no final dos anos 90. A carga emocional da apresentação foi intensa e não era raro ver pessoas, das mais variadas idades, aos prantos a cada canção.



Sem se render aos truques do rock contemporâneo, no qual boa parte das bandas apostam no caráter visual das apresentações, a turnê V Estações conta sim com belas luzes e projeções - que ajudam a contextualizar cada canção - mas se sustenta, principalmente, nos números clássicos que compõem o repertório da Legião Urbana.



A performance de André na voz principal é um capítulo à parte. Dono de forte personalidade, o cantor e ator consegue chamar atenção pela performance segura que não abre margem a comparações com Renato Russo. Carismático, Frateschi presta justa homenagem, mas o faz de maneira própria, sem se render a traquinagens como forçar um tom mais grave ou adotar os trejeitos do performático Renato Russo. O lado ator de Frateschi, inclusive, se fez presente em "Soldados" canção na qual ele e Dado simularam um duelo.



Tal como na turnê anterior, Dado e Bonfá assumem maior protagonismo durante a apresentação ao assumir os vocais de algumas faixas. E o fazem muito bem! O guitarrista Villa-Lobos ficou responsável por "Sete Cidades", "Índios" e "Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto". Já o baterista, cantou "O Teatro dos Vampiros", "Por Enquanto" e "Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar".



Frateschi em momento de ovação, exibiu uma bandeira com foto da formação clássica da Legião, incluindo o baixista Negrete. Referindo-se à presença mística de Renato Russo, o vocalista disse que a banda, a cada show, pode sentir o “sopro do dragão” sobre eles. O final apoteótico com a poderosa "Metal Contra as Nuvens" encerrou aquela que seria, segundo o próprio grupo, a melhor apresentação da turnê.



Antes mesmo que a banda deixasse o palco, o público clamou por “Eduardo e Mônica”, provando que o repertório da banda estará sempre incompleto, o que reitera a demanda por mais turnês celebrando os próximos discos da carreira da Legião Urbana.



Avaliação Final

Muito mais que um show-tributo, trata-se de um encontro de verdadeiros cânones do rock nacional com o seu público. A configuração da banda, com destaque ao vocalista, e recursos visuais sem excesso, contribuem para um espetáculo que merece ser visto, principalmente, pelos fãs da Legião Urbana. Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e banda entregam exatamente o que se espera: hits e emoção.




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