Com Noturnas, Pelos amplia horizontes sonoros e poéticos sem perder a essência

Dois anos após o impacto de Atlântico Corpo (2022), a Pelos retorna com Noturnas, quinto álbum de estúdio da carreira, reafirmando a capacidade de se reinventar sem se desconectar de sua própria história. Se o disco anterior soava como uma obra conceitual, sustentada pela investigação de ancestralidades, pretitude e tradições musicais negras, o novo trabalho se apresenta como uma continuidade natural, mas que evita revisitar os mesmos discursos e estéticas de outrora.

Musicalmente, a banda mantém viva a chama setentista que sempre permeou sua sonoridade, navegando entre rock, soul e funk com uma entrega visceral que a diferencia de outras formações contemporâneas. Não se trata de homenagem nostálgica, mas de apropriação criativa: os riffs, grooves e camadas vocais soam renovados, guiando a audição para um território que equilibra peso e sensibilidade.

Nas letras, cada faixa funciona como um frame, uma fotografia noturna dos becos, bares e ruas do centro de Belo Horizonte. O olhar atento e poético da banda sobre a cidade faz com que o ouvinte mineiro — e qualquer um que já tenha caminhado pelas madrugadas urbanas — estabeleça uma relação mais profunda com as músicas, redescobrindo no cotidiano detalhes antes invisíveis.

A produção de Henrique Matheus e Thiago Corrêa, realizada no estúdio Frango no Bafo (BH), em parceria com a mixagem e masterização de Leonardo Marques, valoriza cada acorde, timbre e respiro, permitindo que as nuances das canções ganhem relevo e peso. O resultado é um registro coeso e sofisticado, mas que preserva a energia crua das gravações ao vivo.

Com Noturnas, a Pelos se consolida como uma das bandas mais criativas de sua geração, mostrando que sua trajetória não é movida por repetições ou zonas de conforto. Pelo contrário: cada álbum funciona como um convite à descoberta de novos caminhos — sejam eles iluminados pelo sol ou atravessados pelas sombras da noite belo-horizontina.

Ouça: "Acaiaca", "Santelmo", "Incêndios", "No Coração do Mundo".

Foto: Daisy Serena