Recentemente, diversos portais de notícias voltados ao universo da música noticiaram que o rock é um dos gêneros mais ouvidos no primeiro semestre de 2023, segundo plataformas de streaming como o Spotify. Diferente de outros tempos em que bandas novas eram responsáveis por pautar a mídia e as paradas de sucesso, o recrudescimento do gênero em questão em muito se deve aos artistas que fizeram sucesso em décadas passadas.
O show de despedida de grupos como o Skank e as novas turnês de retorno dos Titãs e da Legião Urbana são bons exemplos de iniciativas que promovem um olhar nostálgico e jogam luz ao rock e suas vertentes, arrastando grande público aos shows.
Em consonância com o tempo atual, em que parte do público roqueiro nutre o desinteresse por novas bandas (em contramão com a oferta e o acesso), diversos festivais têm apostado em lineups que aglutinam artistas de gerações anteriores que alimentam a fome pela energia de tempos de outrora. Dois exemplos dessa tendência são as edições mineiras recentes do Rock Fest (voltado a grupos da geração anos 2000) e o Prime Rock Brasil.
Tendo o rock dos anos 80 como aposta, o Prime Rock contou com apresentações de Nenhum de Nós, Biquini, Humberto Gessinger, Paula Toller, Frejat, Paulo Ricardo, Leo Jaime, Fernanda Abreu e a dupla Dado e Bonfá (da Legião Urbana), agradando em cheio o público que lotou as dependências do Mineirão em Belo Horizonte.
Prime Rock Brasil
Fundado em 2018, o Prime Rock Brasil nasceu em Curitiba (Paraná) e desde então expandiu seu campo de atuação para outras capitais como Recife e Belo Horizonte.
Na capital mineira, o festival teve sua primeira edição em 2019 e, vem desde então, suprindo uma lacuna histórica deixada pelo finado Pop Rock Brasil, evento que marcou a cidade com edições que ocorreram entre os anos de 1983 a 2008 e que reunia o suprassumo da cena rock, conciliando artistas da nova geração e veteranos.
Muros & Grades
Utilizando novamente a Esplanada do Mineirão como arena para a realização do evento, a produção conseguiu explorar bem as dependências do local, criando um ambiente organizado com boa distribuição de bares, banheiros e áreas de alimentação nos quais o público pode circular sem grandes intercorrências.
O evento contou com três modalidades de acesso (pista comum, premium e camarote) e a programação foi intercalada entre o palco principal e dois palcos secundários ao longo das 12 horas de programação.
Se a edição de 2022 enfrentou problemas técnicos que fizeram com o show de Paulo Ricardo fosse interrompido por limites de horários, o Prime de 2023 ficará marcado pela pontualidade. Além disso, a qualidade do som e o bom uso dos telões permitiram ao público acompanhar bem as apresentações de qualquer ponto da Esplanada.
Sobre o tempo
Cada uma das apresentações principais cumpriu roteiros tradicionais de suas respectivas turnês, apostando no repertório de sucesso construído, essencialmente, nas décadas de 80 e 90.
É inegável que canções como "Camila, Camila" (Nenhum de Nós), "Pintura Íntima" (Kid Abelha), "Há Tempos" (Legião Urbana), "Zé Ninguém" (Biquini), "Bete Balanço" (Barão Vermelho), "Infinita Highway" (Engenheiros do Hawaii), "Olhar 43" (RPM) sejam atemporais e obrigatórias em um evento como este. Entretanto, é triste ver que bandas como Biquini, Paulo Ricardo e Humberto Gessinger tenham se aventurado em colocar novas canções no setlist, mas que foram recebidas de maneira fria, já que grande parte do público estava sequioso pela velharia de sempre.
Puro Êxtase
O enorme público, cuja faixa etária estava na casa dos 40 a 50 anos, chegou cedo, disposto a assistir a cada uma das apresentações da longa programação. Muitas delas, inclusive, que não tiveram oportunidade de ver nos tempos áureos.
No show de abertura do Nenhum de Nós, era possível ver que milhares de pessoas disputando a grade dispostas a encarar as mais de 10 horas de evento até o show de encerramento de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que foi o responsável por manter uma grande fração do público no evento. E a plateia fez bonito entoando em uníssono cada um dos hinos do pop rock nacional, provando a relevância da indústria responsável por cunhar tantos sucessos nas paradas de rádio.
Agora Só Falta Você
O festival foi marcado, principalmente, por diversas reverências aos ícones da música brasileira que partiram, como Erasmo Carlos, Tim Maia, Cazuza e Raul Seixas. O posto de maior homenageada da noite, entretanto, ficou para Rita Lee.
A recente passagem de Rita Lee para um outro plano astral deixou lacunas imensuráveis no rock brasileiro e, muito justamente, o palco do Prime Rock Brasil 2023 funcionou como um tributo à sua obra. Pelo menos três das atrações principais incluíram canções da rainha do rock em seus setlists.
A emblemática "Agora Só Falta Você" (do clássico álbum Fruto Proibido) foi executada durante os shows de Biquini e Paula Toller. O guitarrista e compositor carioca Frejat incluiu nada menos que três faixas de Rita Lee, sendo a faixa mencionada, "Ovelha Negra" e "Jardins da Babilônia" que contaram ainda com a participação da radiante Fernanda Abreu nos vocais.
Quando Eu Te Encontrar
Léo Jaime e Fernanda Abreu foram os convidados especiais dessa edição do festival para participarem, respectivamente, dos shows de Paulo Ricardo e Frejat. Ambos construíram trajetórias de suma importância no cenário rock nacional e suas participações eram bastante aguardadas.
Acertadamente, a produção soube explorar as potencialidades de Jaime ao escalá-lo para também se apresentar no palco secundário do camarote. Durante os intervalos dos shows no palco principal, o cantor expôs toda a sua versatilidade ao tocar canções de sua autoria, clássicos do pop rock nacional e internacional.
E falando em participação especial, chamou a atenção a presença de Liminha, compondo a linha de frente no show de Paula Toller. Responsável por boa parte do que de melhor o rock nacional produziu na era do vinil, o músico e produtor atualmente é diretor musical da cantora e integra sua banda de apoio.
School of Rock
Enquanto festivais necessários como o Prime Rock Brasil seguem proporcionando momentos inesquecíveis aos fãs do rock dos anos 80, é fundamental que também exista espaço para a diversidade musical e para as novas vozes que estão surgindo, garantindo a continuidade e a evolução desse gênero musical que, notoriamente, não conta com a mesma vitrine comercial nos dias atuais.
Nesse sentido, é louvável a ideia de um palco dedicado às sementes do rock da cidade. Ficou à cargo da School of Rock, escola de música franqueada, a missão de levar ao palco bandas formadas por alunos de todas as idades. Interpretando clássicos do rock de todos os tempos, os jovens músicos puderam performar para um atento público e mostrar seu talento potencial, contanto com estrutura profissional e toda a emoção que a experiência proporciona.
Conclusão
A nostalgia é um poderoso combustível para eventos como o Prime Rock Brasil, onde artistas consagrados se reúnem para encantar os fãs de longa data, que se emocionam ao ouvir os sucessos de décadas passadas. A edição do festival mostrou que o rock nacional dos anos 80 continua firme e forte em seu legado, atraindo um público saudoso e apaixonado pelas memórias proporcionadas pela música.
A longevidade do sucesso do rock nacional na agenda da capital chancela a importância desse movimento musical no Brasil, que moldou preferências, definiu estruturas e até hoje influencia o rock feito no Brasil. Sem dúvida, a música daqueles tempos continua a ressoar nos corações de milhões de fãs, conquistando novas gerações e perpetuando o legado de seus criadores.
Avaliação Final
O Prime Rock Brasil não quer enganar ninguém, muito pelo contrário. É um evento dedicado aos sucessos do passado que pode ser lido como homenagem, resgate, celebração ou pura diversão. Tanto os artistas soaram honestos em suas entregas, quando o público se mostrou deslumbrado ao ver/rever seus ídolos no palco. Com pontualidade exemplar e infraestrutura confortável que não gerou grandes incidentes, o festival deixa expectativa para as próximas edições.
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