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Foto do escritorFrancesco Napoli

Primeiro Tranquilo do ano é uma síntese da música de Beagá

Anunciado como uma edição histórica do Tranquilo, o retorno do projeto depois da tradicional pausa de fim de ano foi marcado pela música produzida em nossa cidade e conseguiu uma verdadeira síntese ao unir Manu Ranilla, Augusta Barna, Marcelo Tofani e Djonga.

 



Manu Ranilla traz a tradição do tambor mineiro, este que tem a pele esticada por cordas e nós e carrega toda a ancestralidade dos cantos tradicionais do congado. Oriunda do “Tambor Mineiro”, este espaço criado há 20 anos pelo cantor, compositor, percussionista e ator Maurício Tizumba, que é um centro de referência da cultura afro-brasileira abrigando projetos de artes cênicas, música e festejos do congado, Manu Ranilla trouxe sua voz e seu tambor em redondas melodias resultados de suas pesquisas musicais.

 



A caixa de folia se tornou uma marca da identidade cultural da nossa cidade, sendo a base das percussões do nosso carnaval e que está presente na maior festa popular mineira que é o congado, nessa marca do sincretismo que une cristianismo e espiritualidade africana. No final do século XX, Milton Nascimento lançava o álbum “Tambores de Minas” (1997) e a caixa de folia passava a integrar a sonoridade da música urbana de beagá, abrindo as portas para aquilo que ficou conhecido como o fenômeno “tilelê”. Dalí tivemos inúmeros artistas que já traziam essa identidade (muito antes de virar modinha!) como Tizumba e Grupo Tambolelê, mas também assistimos o advento do Graveola e o Lixo Polifônico que sintetizou aquele modo de ser no mundo e marcou a música de nossa cidade.

 



Aqui está a síntese que esta edição do Tranquilo conseguiu fazer: aproximar Ranilla de Marcelo Tofani, ex-integrante do Rosa Neon, grupo fundado por LG Lopes, que também fundou o Graveola. Algo da história da música urbana contemporânea de nossa cidade estava se delineando naquela noite e ouvir o delicioso caso de Djonga e Tofani trocando suas primeiras e precárias produções musicais em uma época distante, antes de fazerem um Galpão 54 lotado cantar seus refrões, só vem a confirmar a potência da cena musical de nossa cidade.


Djonga tem aquele espírito do Bituca, que fez os artistas que orbitavam Milton Nascimento serem ajudados por ele a se projetarem, aquela generosidade mineira que reivindicávamos quando sentíamos que as  “panelinhas” dominavam a cena.


Ali estiveram Djonga e Tofani fazendo aquilo que fazem de modo descontraído nos fins de semana, brincando e tocando com direito a um momento em que os filhos de Djonga invadem o palco e a Iolanda, de quatro anos, faz a plateia inteira cantar “Borboletinha tá na cozinha...” estávamos todos na cozinha do Djonga nessa que é a característica fundamental do Tranquilo, o artista mostrando suas músicas despidas de produções mirabolantes.



E o que dizer de Augusta Barna? Essa menina de vinte anos de idade e muito desejo de se fazer sentir. Augusta tocou violão em um show pela primeira vez na vida e revelou como suas complexas construções melódicas nascem de dois acordes que ela faz como quem cria um universo a partir da simplicidade. Quem já ouviu o ótimo “Sangria Desatada”, álbum de estreia da cantora produzido por  Dudu Amendoeira, conhece o vigor e a força daqueles arranjos que revestem aquela voz, mas ver Augusta tocando suas composições somente no violão é uma experiência deliciosa. Um violão errático em contraste com um canto impecável em melodias robustas e resolvidas, canções repletas de nuances construídas em dois tímidos acordes cambaleantes. Essa menina promete, viu?

 






 

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