Desde as etapas de construção da Arena MRV, estádio próprio do Clube Atlético Mineiro no bairro Califórnia em Belo Horizonte, o local vem sendo tratado como espaço multiuso, ou seja, já nasceu com a proposta de receber eventos de toda ordem. É notório que a cidade é deficiente em espaços que comportam grandes shows, especialmente de nomes internacionais, e a opção de mais uma arena é muito bem-vinda para o calendário cultural da região metropolitana de BH.
Com capacidade logística para 45 mil pessoas, a Arena MRV abriu oficialmente as portas para eventos-teste com duas noites de shows organizados pelo próprio clube. Na quarta-feira, dia 6, o evento batizado de Sacode BH recebeu Clayton e Romário, Jorge e Mateus e Ivete Sangalo, com ingressos a partir de R$ 120,00. Já no sábado, dia 9, foi a vez de Jota Quest e da banda californiana Maroon 5 comporem a programação do Celebra BH, com ingressos a partir de R$ 225,00.
Os shows dos dois dias de evento, que primaram pela pontualidade, foram assistidos por um público total de 40 mil pessoas, sendo que a noite internacional angariou maior público. Do ponto de vista da organização, seria normal perceber problemas na organização geral, mas o que vimos foi o oposto disso. Os espaços estavam minimamente sinalizados e as equipes externa e interna foram bem instruídas para prestar informações de fluxo, por exemplo. Serviços de bares e acesso aos banheiros também funcionaram sem problemas para o público em questão.
"Esse é o maior momento que já vivemos em toda a nossa carreira", enalteceu Flausino.
Sacode
O primeiro dia de shows contou com um público empolgado e disposto a se comunicar com seus ídolos, seja como fosse. A grade foi povoada por cartazes com mensagens de carinho e pedidos dos mais diversos.
Encarregados do pontapé inicial, a dupla sertaneja de Goiânia, Clayton e Romário, cantou seus sucessos para um público que crescia ao longo da noite. Até mesmo o clima instável, que ameaçava chuva a qualquer instante, foi cooperativo e não atrapalhou a primeira apresentação musical da Arena MRV.
O aguardado show da dupla Jorge e Mateus seguiu a linha romântica e colocou a promissora plateia a cantar hits de toda a carreira, como “Todo Seu” e “Cinco Regras”. Além de uma performance impactante que contou com belas imagens no telão, a dupla se mostrou comunicativa. Leram os cartazes dos fãs, atenderam a pedidos e jogaram brindes para o público.
Com a pista já consolidada pelo público, Ivete Sangalo subiu ao palco acompanhada pelos bailarinos, esbanjando energia, como não poderia deixar de ser. A baiana de Juazeiro não poupou o trocadilho com o próprio nome para ganhar o público atleticano presente no estádio logo no início da apresentação: “Eu sou a Ivete San…!”. E a resposta veio a plenos pulmões pela torcida que não cansa de gritar Galo.
Tendo o carisma como marca registrada, Ivete passou o show encarando a plateia, reconhecendo rostos amigos e interagindo com os nomes que conseguia ler nos cartazes. De “Cria de Ivete” a “Céu da Boca”, o setlist da noite contemplou sucessos desde a Banda Eva com “Me Abraça” e “Beleza Rara”.
A fina garoa que caiu durante parte do show só serviu para refrescar quem pulava feito pipoca respondendo aos pedidos de coreografia e rodas da cantora. Em momento inusitado, Ivete recebeu dos fãs uma coroa que fez questão de experimentar. Um adereço simbólico que diz do carinho do mineiro ao chancelar, oportunamente, a artista mais bem sucedida do gênero.
Celebra
Com público nitidamente maior no segundo dia de shows, a Arena MRV manteve os protocolos para receber a primeira atração internacional: o Maroon 5, que estava de passagem pelo Brasil para participação no The Town.
O Jota Quest foi a primeira banda da capital a subir no palco da Arena MRV. O frontman, Rogério Flausino, não conteve a empolgação e, durante o show, compartilhou diversas vezes a alegria de tocar para uma plateia tão grande e em casa. “Esse é o maior momento que já vivemos em toda a nossa carreira”, enalteceu Flausino. Em um show onde desfilaram todos os hits da sólida carreira pop rock construída desde 1993, o Jota Quest se portou com um entusiasmo de fazer inveja a muita garotada.
Fazendo bom uso do telão e da passarela central que avançava para a pista - onde performavam Flausino, Marco Túlio e PJ - a banda entregou uma experiência memorável para uma plateia bem heterogênea. Até mesmo quem estava ali para ver o Maroon 5, não pode se conter com os refrões de grandes clássicos como “Na Moral”, “Amor Maior”, “Fácil”, “Só Hoje” e “Dias Melhores”. Com metade da pista e alguns setores das arquibancadas tomados, o Jota encerrou o show de forma épica enaltecendo a relevância da música pop em Minas Gerais.
Liderados por Adam Levine, a banda Maroon 5 fez um show de quase 2h, repetindo, praticamente, o mesmo set do The Town. Muito à vontade com o público que respondeu muito bem a cada canção, o vocalista falou sobre o prazer que tem em cantar para o público brasileiro e lembrou a primeira vez que estiveram no Brasil. Interagindo com todos os cantos do estádio, Adam percorreu a passarela praticamente em todas as músicas, se aproximando dos fãs que não paravam de registrar o artista.
O show dançante do Maroon 5 tinha todos os elementos pertinentes ao evento de inauguração, a começar pelos ótimos hits. Não é à toa que o Maroon 5 acumula 50 milhões de ouvintes mensais no Spotify e bate recorde a cada lançamento. Do set de São Paulo, só mesmo “Won't Go Home Without You” ficou de fora. O que significa que, para delírio de quem compareceu no show em Belo Horizonte, a banda não foi econômica e estiveram presentes "Beautiful Mistakes", "Misery", "Sugar", “Girls Like You” e "Payphone”.
Com final apoteótico, com direito a fogos de artifício, Adam Levine, Jesse Carmichael, James Valentine, Matt Flynn, PJ Morton e Sam Farrar encerraram o show que deixará saudades pela passagem na capital mineira.
Conclusão
A missão de inaugurar o Arena MRV para shows foi cumprida com louvor. A escolha dos nomes que se apresentaram nesta semana faz jus a um evento de abertura, ao mesmo tempo que impõe os desafios necessários para dimensionar as necessidades da gestão. Segundo o próprio CEO do Clube Atlético Mineiro, Bruno Muzzi, a conta de se fazer um espetáculo dessas proporções fecha a partir de 35 mil pagantes. O que não será nenhum problema para o próximo show na agenda do espaço: Sir Paul McCartney. Diferentemente do evento-teste, os próximos eventos musicais serão organizados por produtoras e não pelo clube.
Avaliação Final
Os shows que inauguraram a Arena MRV como espaço para realização de grandes shows, chamam atenção pela estreia impecável. Com a prudência de um público que encheu a casa sem as mazelas de uma lotação máxima, o espaço entregou o conforto mínimo no que diz respeito a logística, acessos e infraestrutura. Outro ponto a mencionar é a qualidade acústica do espaço que, devido às dimensões e arquitetura, permitiu ao público curtir a música sem desabonos até das cadeiras mais distantes.
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