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Foto do escritorAlexandre Biciati

Viva Brasil deixa a desejar apesar das grandes atrações

O Viva Brasil foi anunciado de forma inesperada a um mês de sua realização. Com um line up que impressionou pelo porte das atrações e uma identidade visual chupada do Desert Trip (2016), o evento causou tanta estranheza que chegou-se a questionar sua veracidade. A organização precisou se posicionar a respeito e, em pouco tempo, esgotaram as entradas. Não era pra menos, o Viva Brasil anunciou Gilberto Gil ao lado do Gilsons, Iza com Natiruts, Maria Bethânia (!) e Jorge Ben Jor. A única ressalva, desde o início, foi a escolha do local que é, notoriamente, de difícil acesso: o Mirante Beagá, no bairro Olhos d’Água.




Desert Trip


Sob um calor descomunal, o público que havia sido instruído previamente pela organização a deixar o carro em casa e usar transporte alternativo, enfrentou problemas desde a chegada. Após desembarcar na área de acesso permitida, era necessário subir uma ladeira de 500 metros até o local do evento. Um tempo de caminhada suficiente para planejar a volta, dada a previsibilidade dos transtornos causados por uma multidão saindo ao mesmo tempo para disputar corrida por aplicativo.


O pátio foi estruturado com enormes tendas que amenizaram o calor, mas que não contemplavam 100% do público presente. As áreas de serviço, como bares, também ficaram expostas ao sol infernal. Se era possível ao público revezar entre áreas de sombra, o mesmo não podemos dizer de quem estava trabalhando no local.



O mais crítico, entretanto, foi a lotação do espaço que impossibilitou o trânsito do público que não conseguia se mexer durante as apresentações. Ir ao banheiro ou pegar uma bebida era uma aventura cujo preço era perder boa parte de um show, senão o show inteiro. Desconfortos à parte, o que chama a atenção nesse cenário é a insegurança a qual os presentes foram submetidos se somarmos todos esses fatores.


Música da Melhor Qualidade


Estrategicamente, o evento divulgou os nomes de Gilberto Gil e Iza sem deixar evidente que fariam breves participações. Se perguntar a qualquer um que fez expectativa em ver Gil ao vivo, por exemplo, vai ouvir a decepcionante frase: ele só cantou quatro músicas. Definitivamente, não é o que estamos acostumados a ver em divulgação de festivais que deixam bem claro nos “cartazes” as chancelas de feat.



Familiarizados com o público de Beagá, já que visitaram a capital três vezes só no ano passado, o Gilsons abriu os trabalhos no imponente palco do Viva Brasil. Apesar da promessa de presença do patriarca na festa, José Gil, Francisco Gil e João Gil, se garantiram muito bem ao vivo. Contando ainda com participação não anunciada da banda Lagum, o Gilsons foi uma escolha bem-vinda em um evento pautado pela música brasileira para cantar e dançar.


O Natiruts foi uma das atrações mais celebradas pelo público, especialmente os fãs incondicionais do reggae (Gilberto Gil que o diga!), que cantaram juntos sucessos desde meados dos anos 90. A presença de Iza no palco também encantou o público e impressionou a própria Natiruts: “Você deveria ter uma banda de reggae”, enalteceram Alexandre Carlo.



Maria Bethânia, a artista mais aguardada, cantou no início da noite para um público majoritariamente jovem e que, apesar de não ser íntimo de sua carreira, respondeu muito bem a cada música com direito a ovação. Bethânia optou acertadamente por um show mais enxuto, sem pausas e com menos textos declamados a que estamos acostumados. Se por um lado o ritmo do espetáculo perde em intensidade, por outro ganha em dinâmica e prova quão versátil pode ser a sensível rainha da MPB no auge dos seus 77 bem cantados anos. Gal Costa e Erasmo Carlos foram devidamente homenageados no setlist que contemplou grandes clássicos da carreira como “Negue” e “Reconvexo”.


Ah, claro! Tinha muita gente que estava enfrentando o evento exclusivamente para ver Maria Bethânia. Era fácil reconhecê-los pelos versos na ponta da língua e pelos olhos vidrados e sutilmente marejados.


Jorge Ben Jor, acompanhado de sua efusiva banda com direito a bateria na frente do palco, trouxe seu repertório mais tradicional. Com a voz no lugar e empunhando sua guitarra rítmica, Jorge Ben Jor mostrou que nada melhor que um caminhão de hits para assegurar uma carreira tão longeva. Devendo uma visita à Beagá de 2019, o artista é um dos poucos medalhões da MPB que não havia cantado na cidade desde o fim da pandemia. Seu show foi recheado de sucessos que povoam nossa memória afetiva e prometia ser o mais animado do festival, não fosse a evasão de grande parte do público que preferiu se antecipar ao iminente problema da volta.



Problemas Evitáveis


Apesar dos shows terem acontecido sem grandes ressalvas técnicas, dada a estrutura de palco que fez jus ao naipe dos artistas contratados, o Viva Brasil ficou marcado pelo descaso com o público. Uma situação que deveria ser evitada se considerarmos que estamos lidando com profissionais do entretenimento capacitados a dimensionar as demandas e os custos de um festival destas proporções.


As principais reclamações foram: a dificuldade de acesso ao Mirante Beagá que não conta com estacionamento compatível; a óbvia inflação do transporte de volta dada a alta demanda; a temperatura inapropriada e até a escassez da bebida desde o início do evento; o preço praticado pelos bares (até quando o público vai ter que engolir lata de cerveja a 19,00 e garrafa de água a 8,00?!); a falta de área de descanso (o evento incentivou o público a levar cangas, mas era impossível sentar); piso molhado e sujo nas áreas dos bares e claro, a causa de todos os males: a superlotação do espaço que impossibilitava o fluxo e que é, também, a receita para ocorrências bem mais graves.


Em tempo, estamos falando de um evento com preço de ingresso médio de exatamente 582,40, se considerarmos as taxas. O mínimo que se espera, em troca do investimento, é que as eventualidades sejam previstas e o planejamento priorize a experiência do público.


Ainda, se os organizadores estão mesmo dispostos a ouvir o feedback do público para adequar as necessidades para uma próxima edição, não é isso que demonstra o bloqueio de comentários no Instagram do perfil oficial logo após a realização do festival.




Avaliação Final

Infelizmente, o ótimo line up foi apagado pela desorganização. Debaixo de sol forte e sem fornecimento do mínimo de conforto coletivo, o enorme público pagante foi privado da estrutura regular de um festival e muitos preferiram ir embora antes do término do evento.




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